“Paridade quase total” chega a festival de cinema de Espinho

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[Fotografia: Pexels/Pixabay]

O FEST – Festival Novos Realizadores, Novo Cinema arranca na segunda-feira em Espinho, comemorando os seus 20 anos com a exibição de aproximadamente 250 filmes dirigidos numa proporção de homens e mulheres em “paridade quase total”.

“Há uma tendência clara para cada vez recebermos mais filmes realizados por mulheres e com temas femininos, e o FEST até é privilegiado nessa matéria, porque foi testemunhando essa evolução de ano para ano, de forma natural”, declarou o diretor do certame, Fernando Vasquez.

O cinema feminino revela-se assim, refere em conversa com a agência Lusa, “mais interessante, porque, mesmo quando revisitado, adota sempre uma perspetiva diferente, mais original e mais fresca”.

No festival de 2024, em concreto, muitas das obras em competição até 1 de julho evocam aspetos relacionados com a maternidade, como é o caso no filme Leite, em que a neerlandesa Stefanie Kolk conta a história de uma mulher que perde o bebé pouco antes do parto e, com o corpo preparado para amamentar, enfrenta questões complexas na tentativa de doar o seu leite.

O filme de abertura do FEST, Filhos, do dinamarquês Gustav Möller, também reflete sobre o comportamento de uma funcionária prisional que passa a ter à sua guarda o responsável por um crime contra o seu próprio filho.

Já no registo documental, outra obra que explora a experiência materna é Depois da ponte, em que Davide Rizzo e Marzia Toscano acompanham a italiana Valeria Collina nas primeiras horas após descobrir que o seu filho foi um dos três jihadistas responsáveis pelo atentado terrorista de Londres em 2017.

Com idêntico espírito paternal, a componente não-competitiva do FEST é em 2024 totalmente dedicada a realizadores que nos últimos 20 anos passaram pelo Pitching Forum do evento – rubrica que apresenta projetos em fase de conceção a potenciais investidores e apoiantes – e que atualmente têm os respetivos filmes em exibição.

É o caso da longa-metragem Fahra, da jordana Darin J. Sallam, que em Espinho conseguiu parte do financiamento para a obra. “O filme aborda a experiência de uma menina palestiniana durante a criação do estado de Israel e o governo desse país está agora a tentar censurá-lo na [plataforma de ‘streaming’] Netflix“, realça Fernando Vasquez.

Outro realizador que regressa ao festival depois de aí ter obtido apoio para um dos seus projetos é António Sequeira, com o filme A minha casinha, que venceu o prémio do público no Festival de Cinema de Austin, nos Estado Unidos, graças à história de uma família portuguesa em que o filho vai estudar para Londres, os pais entram na crise da meia-idade e a filha mais nova receia contar-lhes que também quer emigrar.

Mantendo as sessões de pitching, o programa do 20.º FEST aposta ainda no seu habitual programa de formação para profissionais – com oradores de renome mundial como a atriz americana Melissa Leo e o editor grego Yorgos Lamprinos – e em atividades paralelas como exposições, sessões infantis, showcases de música “com identidade cinematográfica” e jantares de networking.

Para Fernando Vasquez, o objetivo do festival é continuar a acompanhar os diferentes progressos do setor audiovisual e refletir sobre as consequências dessas mudanças em profissionais e espectadores.

“Nestes 20 anos de FEST o mundo do cinema nunca parou de mudar radicalmente e prosseguiu um pouco sem rumo”, disse o diretor do certame. “O que desejamos para as próximas duas décadas é que ele encontre o seu caminho, de forma a que tecnologias como a Inteligência Artificial e os hábitos das novas audiências encontrem o equilíbrio que permita ao cinema voltar a ser a forma dominante de imagem em movimento”, concluiu.

LUSA