Menopausa. “Depende muito da sorte e do dinheiro que se tem, e não deveria ser assim”

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[Fotografia: Pexels/Karolina Gabrowska]

Cerca de 2/3 das portuguesas falam em “fase má ou muito má” quando atravessam a perimenopausa e menopausa. A conclusão chega do estudo Menopausa: Como é vivida pelas mulheres em Portugal com coordenação científica do médico ginecologista e obstetra Joaquim Neves, e apresentado esta quarta-feira, 26 de junho, em Lisboa, e que pretende colocar a matéria na ordem do dia.

Afinal, a maioria das mulheres chega a sentir seis sintomas diferentes, entre eles destaque para “gordura abdominal (57%), as ondas de calor (55%), as insónias/perturbações de sono (54%) e a fraqueza/cansaço (47%)”.

Com tanta prevalência da sintomatologia porque se trata de um tema ainda tão pouco falado e sempre na discrição. “A mulher está muito habituada a normalizar os seus desconfortos. A geração acima de nós passou-nos isto”, afirma Clara Cardoso, uma das investigadoras do estudo apresentado. A especialista sustenta que “há trabalho a fazer na forma como as mulheres encaram a menopausa”, pede “reflexão” e “consultas especializadas”. “Os médicos de família têm 15 minutos para consulta, não há tempo para falar de menopausa”, vinca. Clara Cardoso lamenta que o tema, tão importante para as mulheres e com o qual se estima que vivam mais 30 anos com ele – por via da esperança média de vida -, seja tratado em “conversas vagas porque, muitas vezes, as mulheres não sabem o que ficou por esclarecer nas consultas”, numa realidade que, afinal, “depende muito da sorte e do dinheiro que tem, e não deveria ser assim”.

O médico ginecologista e obstetra Joaquim Neves pede, na conferência ‘Não fica bem falar de… Menopausa’, da Wells, “os médicos devem ser proativos na avaliação pós-menopausa, perguntar por desconforto vaginal, nas relações, a perda de urina. Se não perguntarmos, a maior parte das mulheres também não diz”

O estudo apresentado conta com uma amostra de “mil mulheres entre os 45 e os 60 anos e procura compreender como as portuguesas vivem a menopausa, abordando questões como desinformação e impreparação, principais efeitos, cuidados adotados e o acompanhamento clínico desta fase da vida. Sendo uma experiência única para cada pessoa, o estudo revela que mais de metade (56%) das mulheres sentem os primeiros sinais antes dos 50 anos, com uma em cada quatro a começar a ter sintomas antes dos 46 anos. Para a maioria, os sintomas duram até dois anos e 34% das mulheres em plena menopausa consideram-nos intensos ou muito intensos”, refere o comunicado.

Para lá da prevalência dos sintomas, a investigação aponta ainda para uma enorme preponderância da desinformação. Mais e oito em cada dez inquiridas (81%) assume não saber distinguir bem a menopausa da perimenopausa. “Devido a esta falta de conhecimento, 52% das mulheres sentem-se pouco ou nada preparadas e 61% das mulheres em perimenopausa não planeiam tomar medidas preventivas antes dos primeiros sintomas. O documento indica também que o acompanhamento médico na menopausa é insuficiente: 38% das mulheres que se apercebem da aproximação à menopausa não procura um especialista ou demora pelo menos um ano a fazê-lo; 14% em plena menopausa ou pós-menopausa não tem qualquer acompanhamento por um profissional de saúde e 73% não faz qualquer tratamento específico”, lê-se na mesma nota sobre o estudo.

Sobre a saúde mental, quase 1/3 diz estar pouco ou nada saudável, e, na intimidade, quase metade (46%) “das mulheres em plena menopausa ou pós-menopausa com parceiro(a) reconhecem efeitos negativos na vida sexual, e 37% refere a perda de libido como um dos principais fatores que contribuem para uma vida sexual menos satisfatória”.