334 euros. Este é o preço médio de venda de calçado de luxo made in Portugal

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[Fotografia: André Gouveia / Global Imagens]

A conclusão é do estudo Os caminhos da indústria de calçado em direção ao luxo – da autoria da EY Parthenon -, que destaca que “o aumento dos custos de produção, associado à dificuldade de aumento do preço médio de venda, põem em causa a sustentabilidade financeira do setor” do calçado português, encontrando-se este “num momento de redefinição estratégica”.

Como dois caminhos para alcançar a sustentabilidade financeira do setor, o trabalho aponta a diminuição dos custos de produção ou o aumento do preço médio de venda, focando a análise nas potencialidades desta última opção, através da aposta em segmentos de maior valor acrescentado, ou seja, no calçado de luxo.

Notando que “uma percentagem relevante [43%] de empresas portuguesas, tanto pequenas como grandes, já vendeu para o segmento de luxo” nos últimos cinco anos, o estudo defende como trunfos do calçado nacional o facto de oferecer “elevada reputação social e ambiental” e “qualidade de produção e preços inferiores aos países europeus”.

“Os produtores portugueses com a mentalidade e know how necessários conseguirão entrar no mercado de luxo, oferecendo preços mais competitivos que Itália”, sustenta a EY Parthenon, destacando a “excelência em cada detalhe do produto” e a “matéria-prima de máxima qualidade” do calçado de couro de luxo nacional.

Relativamente a Itália, líder mundial na produção de calçado de luxo e com um setor “vocacionado para abastecer este segmento”, apesar de representar apenas 1% do mercado global de calçado, o trabalho diz ser “expectável que mantenha a sua posição dominante”, mas prevê que enfrente uma “maior pressão concorrencial”.

O facto é que, entre 2013 e 2023, a diferença entre o preço médio de exportação do calçado italiano e português triplicou, “fruto do crescimento acentuado em Itália e da estagnação em Portugal”: Em 2013, esta diferença era de 12,1 euros (o preço médio de exportação de Itália era de 35,4 euros, contra 23,3 euros do calçado português), tendo disparado para 38,9 euros em 2023 (66,6 euros contra 27,7 euros).

Segundo destaca a EY Parthenon, se os fabricantes portugueses tivessem acompanhado o crescimento do preço médio de exportação de Itália, teriam exportado mais 1.165 milhões de euros em 2023, ou seja, um total de 3.169 milhões de euros, em vez dos 2.004 milhões que efetivamente vendeu.

Assim, se a evolução do preço médio de exportação do calçado nacional tivesse acompanhado o ritmo italiano ao longo da última década, as exportações portuguesas do setor teriam alcançado um incremento de 88% entre 2013 e 2023, muito acima do crescimento efetivo de 19% que registou.

Embora note não existir consenso quanto ao preço de venda ao público (PVP) que define o luxo, o estudo concluiu, com base num questionário efetuado aos associados da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), que as “empresas experientes neste segmento respondem com valores mais altos”.

Desta forma, as empresas que vendem ou já venderam calçado de luxo apontam um PVP médio de 344 euros, enquanto as que nunca o fizeram indicam um valor de 228 euros.

Já quando questionadas sobre as principais razões para não produzirem para o luxo, as empresas inquiridas apontaram sobretudo a falta de interesse (29%) e a inadequação do produto que fabricam (18%).

Os restantes motivos indicados foram a insuficiente atividade comercial e o preço oferecido demasiado baixo (ambos com 16%), a falta de mão de obra especializada ou maquinaria adequada (10%), o não cumprimento dos critérios exigidos pelas marcas de luxo (6%) e a falta de capacidade produtiva (4%).

Em 2023, segundo os dados avançados pela EY Parthenon, o mercado global de calçado valia cerca de 398.000 milhões de dólares, dos quais cerca de 8% (31.700 milhões de dólares) foram gerados pelo segmento de calçado de luxo.

Para alcançar os segmentos de luxo, o estudo destaca a importância de “compreender as dinâmicas da concorrência e dos clientes, tendo em conta as competências das empresas nacionais”, de forma a encontrar o espaço em que o setor português de calçado se distingue da concorrência.

Segundo concretiza, as marcas do segmento de luxo “exigem aos seus fornecedores excelência na qualidade dos produtos e no serviço de ‘cliente care'” (assistência ao cliente), pautando-se as relações entre marcas de luxo e os seus fornecedores “por princípios de transparência e confidencialidade”.

Adicionalmente, as marcas de luxo procuram fornecedores em países que lhes assegurem “elevada estabilidade, a par de agilidade produtiva e preços competitivos”, exigindo os consumidores do luxo “bens produzidos em países reconhecidos pela qualidade e estrito cumprimento das normas ESG” (ambientais, sociais e de governação corporativa).

LUSA