Pedrógão Grande: Conservatória pede 250 euros a quem precisa de reconstruir casa

Incendio que trouxe o terror esta noite a Pedrogão Grande
Leiria, 19/06/2017 - Incendio que trouxe o terror esta noite a Pedrogão Grande, numero de vitimas mortais já vai em 61. Esta noite os bombeiros e os populares combateram o fogo (Rui Oliveira / Global Imagens)

Quase a completar 80 anos, Rosalina Rosa perdeu tudo com o fogo de Pedrógão Grande, a 17 de junho. A partir de Figueira, a aldeia onde vive, esta mulher lamenta que para recomeçar a vida e uma casa, ninguém lhe poupe os 250 euros que são necessários pagar para obter um registo predial. O documento que autorizará a reconstrução da casa que já foi sua.

Mas esta habitante, conhecida como a “mulher do chapéu”, denuncia mais: para lá de sonhar com a prometida ajuda psicológica para si e para quem a rodeia, esta mulher revelou, esta quinta- feira, 17 de agosto, ao Jornal de Leiria, que, para começar a dar início à reconstrução da sua casa, teve de desembolsar 250 euros das magras economias que o fogo não engoliu.

Rosalina Rosa [Fotografia: Carlos Manuel Martins/Global Imagens]

Tudo começou pelos 15€ de táxi para fazer a cerca de dezena de quilómetros entre Figueira e Pedrógão Grande. Mas a maior fatura chegou quanto teve de obter uma certidão da Conservatória do Registo Predial, documento obrigatório que lhe permite começar a reconstruir a casa.

“Ainda pediram 250 euros por um papel com meia dúzia de linhas”, desabafou a quase octogenária ao jornal regional, suspirando: “Não perdoam. Nada!”

“Ando doente”

Depois de ter perdido a casa nas noites de inferno de Pedrógão Grande, hoje Rosalina Rosa vive com a irmã, cuja casa escapou às chamas. Desolada, relata ainda que se sente abatida e pede ajuda psicológica.

“Ando doente… Sinto-me mal, abatida da cabeça e do corpo. Perdi muito peso, gostava de ir a um psicólogo que me visse, mas ainda não fui a nenhum”, conta.

E agarra-se às promessas. “[O presidente Marcelo Rebelo de Sousa] Esteve dentro da minha casa queimada, logo a seguir ao fogo e prometeu que, em dezembro, as casas queimadas iam estar construídas e que ele vinha cá passar o Natal com a família”, recorda, enquanto pergunta pelas ajudas monetárias que não chegam. “O que andam a fazer com todo aquele dinheiro que juntaram? Eu não vi nenhum. Já era para andarem por aí a mexer”.

As isenções não chegam a todo o lado

Figueira foi arrasada pelas chamas nos dias negros que se seguiram a 17 de junho. E, para lá de duas casas de primeira habitação que desapareceram nas chamas, houve um total de seis imóveis destruídos nos incêndios.

Na ocasião, os municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos decidiram não cobrar a água usada no combate ao incêndio e anunciaram a redução das tarifas da água, saneamento e resíduos para os que tiveram de salvar os seus bens e pertences.

Mas agora, Rosalina lamenta que o apoio não chegue dos registos. Afinal, conta que precisa de despender 250 euros para recomeçar a vida… aos 80 anos.

A 6 de julho, o Conselho de Ministros aprovava uma lista de 11 linhas de apoio que passavam por, entre outras, apoiar, através do Fundo de Apoio à Revitalização e de outras fontes de financiamento, a reabilitação e reconstrução das habitações, desenvolver medidas de apoio às famílias que se encontrem em situação de carência, promover a acessibilidade aos cuidados de saúde.

Recentemente, já na semana passada, foram criadas medidas extraordinárias no âmbito da Segurança Social e para as vítimas de incêndios, tendo sido também estabelecidas as regras para o subsídio de caráter eventual.

Este podia ser requerido por “indivíduos e as famílias em comprovada situação de carência económica ou de perda de rendimentos por motivo diretamente resultante do incêndio” e para fazer face a, entre outras, despesas como rendas em situações de alojamento para habitação temporária, aquisição de bens e serviços de primeira necessidade nas áreas de alimentação, vestuário, habitação, saúde, educação e transportes, aquisição de instrumentos de trabalho.

Imagem de destaque: Global Imagens